terça-feira, 14 de setembro de 2010

Tipo exportação

No Castelo das Pedras a cerveja é um real


Um mar de latinhas amassadas no chão é passarela para um desfile de roupas falsificadas. Muita, muita gente. Erupções de faíscas, bundas faraônicas, chamativos cordões dourados e bonés, muitos bonés. O palco dispensa instrumentistas e bons intérpretes: a música é digital, o que no caso dá muito certo.

No Castelo das Pedras a cerveja custa um real. Em cima, uma segregação natural. Mocinhos e patricinhas da mais alta estirpe adquirem um camarote por preço irrisório e assistem do alto a grande massa do grande baile. No coração da zona oeste do Rio de Janeiro o funk se perpetua.

O batidão é genuinamente carioca, filho da Guanabara, e não vai morrer tão cedo ainda que muitos assim desejem. Este ritmo fabricado aqui pode até ser condenável esteticamente, mas pelo menos é um movimento assumido e honesto, fruto da nossa terra.

Não é o funk que joga contra a língua portuguesa. É o português que joga contra o funk. Muitos dos que condenam o pancadão rebolam suas bundinhas em caras boates ao som de hip hop norte americano de conteúdo tão safado e pobre quanto, ou muitas vezes mais. A diferença é que os negões de lá cantam em inglês. Os negões de lá são os de lá. É o complexo de colonizado que age sobre as magras cinturas da zona sul as fazendo rebolar.

Jorge Mautner falou uma vez sobre um embaixador brasileiro que levou cachaça para um importante governante alemão que queria conhecer uma bebida brasileira. Após a prova, quando o alemão perguntou 'quem bebe isto em seu país?', o embaixador, envergonhado, respondeu que eram os escravos. Ouviu então a seguinte contra-resposta: 'Ora, mas se os escravos bebem isso, imagine o que bebem os nobres...'

Gosto é gosto e ninguém é obrigado a gostar de funk, o debate não é esse. O que intriga é a mania de importação que o brasileiro tem. No Castelo das Pedras, poquíssimas músicas estrangeiras são executadas, quase nenhuma. Falta na patriçada, no high society, o que a galera do funk tem de sobra: confiança no que se tem.

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